21 de novembro de 2014

A publicação de entrevistas a "jihadistas" enquanto falso dever de informar


É inconcebível que uma revista portuguesa publique uma entrevista ao "jihadista português", sobretudo quando se sabe que mata por motivos político-religiosos. O interesse que o público possa ter na compreensão deste mal deverá ser publicado apenas, e só apenas, depois de uma estruturação adequada e submissão a um pensamento crítico, como aconteceu com Eichmann. Arendt não convidou o nazi para o seu sofá para divulgar a sua defesa mesmo antes de qualquer julgamento. Isso não é "dever de informar", é mera curiosidade mórbida; e mais agravada quando constitui, simultaneamente, propaganda (de capa!) ao ISIS, que manifestamente recruta através de acções de divulgação mediática como esta. A Sábado, ao dar voz a jihadistas assassinos, participa no recrutamento de outros jihadistas (que não passam de "rebeldes sem causa") e banaliza seriamente a questão do mal, adormecendo-a.

2 comentários:

Anónimo disse...

Os católicos insurgem-se sempre que alguém revela estudos bíblicos sem participar em grupos católicos de estudos bíblicos. Eu discordo violentamente de ti. Arendt nunca denominaria um jihadista de "rebelde sem causa". E banalizar o mal é assumir unicamente o seu extremo, edificando esse mesmo mal quando ocorre uma violação à vida humana. É necessária uma nova definição que separe e estruture o conceito de mal, actualizando e ao mesmo tempo laicizando as diversas teorias religiosas e de fé. Admiro muito e muito e muito Arendt por encerrar as cortinas da sociedade do espectáculo e nada mais.

FFG

O Gigante Egoísta disse...

Perante as dificuldades de interpretação textual que o/a comentador/a "FFG" manifestou, passo a esclarecer o seguinte:

* Não há qualquer referência a "católicos" nem "estudos bíblicos" na minha publicação.
* Não se afirma em qualquer passo do texto que Arednt denomina ou denominaria um jiadista de "rebelde sem causa".
* O que se diz é que, na minha opinião, muitos dos jovens que são recrutados para as fileiras do DAESH não têm princípios nem valores morais suficientemente fortes, ou seja, "causas", e são, por isso, seduzidos por uma mundivisão que lhes acena com um propósito (novamente, uma "causa") para as suas vidas. Resumindo, é a falta de uma estrutura compreensiva que integre elementos culturais, de cidadania e morais que permite, de certo modo, a sedução por uma luta de guerrilha em favor de um corpo que lhe transmite essa estrutura de elementos (embora, na nossa óptica, disformes).
* A questão do mal já foi extremamente contemplada filosoficamente ao longo de mais de dois mil anos. Na nossa matriz cultural com raízes greco-latinas e judaico-cristãs está, necessariamente ligada a esses elementos genéticos. Querer redefini-la é querer mudar de cultura. Caso contrário, estar-se-á a dar um testemunho de que não percebe absolutamente de História ou da formação da identidade cultural europeia.