8 de dezembro de 2015

A definição violenta da Europa




A caracterização dessa noção de "identidade europeia" sempre se provou muito difícil, sobretudo em tempos de paz. 

Se, por um lado, listas de autores (Dante, Petrarca, Camões, Shakespeare, Ronsard, Racine, Dostoiévski, Kafka...), distanciados no tempo e no espaço, se reportam à mesma matriz cultural (os modelos clássicos gregos e latinos modulados por conceitos judaico-cristãos originais), por outro lado, sobretudo na última década, vemos uma Europa de costas voltadas, não obstante as pantomimas encenadas nas instituições da União Europeia.

No entanto, essa mesma "identidade europeia" tem-se vindo a reforçar e definir reactivamente aos ataques terroristas de inspiração islâmica.

A este propósito, recordo o artigo de Adriano Moreira, publicado no Diário de Notícias de 1-5-2012.

A unidade da Europa perante o mundo parece ter exigido, na sua narrativa histórica, a existência de um perigo iminente, designadamente de uma agressão. (...) A última guerra mundial, e a guerra fria que se lhe seguiu por meio século, foram suficientes para determinar um sentimento de identidade europeia por oposição aos totalitarismos de vários sinais que se recortavam como ameaças (...) Isto sabendo-se, por experiência antiga, que sem um sentido de território próprio, e de identidade suficiente da população perante os vizinhos, que são os outros, não é possível uma unidade política com viabilidade assegurada.

Parece ser assim a monstruosidade dos totalitarismos, sobretudo o totalitarismo islâmico na actualidade, que, acentuando o sentimento de perigo colectivo através de acções terroristas, se constitui como fonte reactiva de percepção de identidade europeia, permitindo a possibilidade política de Merkel e Hollande caminharem literalmente de mãos dadas pelas ruas ensanguentadas de Paris.

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