10 de janeiro de 2007

to my angel

—O êxtase do ar e a palavra do vento povoaram de ti meu pensamento—

1. Vinhas descendo ao longo das estradas,
Mais leve do que a dança
Como seguindo o sonho que balança
Através das ramagens inspiradas.

2. O céu vermelho arde,
E entre as árvores escuras e caladas
Nasceste da secreta cor da tarde.

3. O jardim tremeu
Pálido de esperança
Por essa perfeição vermelha e plena,
Essa glória ardente e serena
Que distingue os deuses dos mortais.

4. A perfeição, a eternidade, a plenitude
Escorrem da sagrada juventude
Dos teus membros
A luz baila em roda dos teus passos
E a ardente palidez da tua divindade
Ergueu-se da pureza dos espaços.

5. É por ti que se enfeita e se consome
Desgrenhada e florida a Primavera
É por ti que a noite chama e espera
Porque és tu quem anuncia o poente nas estradas
E o vento torcendo as árvores desfolhadas
Canta e grita que tu vais chegar.

6. O destino que em nós é caos e luto
É em ti verdade e harmonia
Caminho puro e absoluto.

7. E agora, o que quero?
Quero
Nos teus quartos forrados de luar
Onde nenhum dos meus gestos faz barulho
Voltar
E sentar-me um instante
Na beira da janela contra os astros
E olhando para dentro contemplar-te
Tu dormindo antes de jamais teres acordado,
Tu como um rio adormecido e doce
Seguindo a voz do vento e a voz do mar
Subindo as escadas que sobem pelo ar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Selecção sublime (=D) de poemas da Sophia,
E no fundo tão somente uma revelação anunciada capaz de nos aproximar desse Cosmos prometido

Vinhas descendo ao longo das estradas,[…]
E o vento […] Canta e grita que tu vais chegar
[…]
(e) dormindo antes de jamais teres acordado,[…]
Sub(o)(indo) as escadas que sobem pelo ar.