6 de janeiro de 2007

SENTIDO DO MUNDO - 3

A existência humana varia como um camaleão: depende do ramo em que está. À pergunta «Como és?» temos de pedir para especificar «A que horas?». Não há uma identidade definida, além de que temos um preconceito contra tudo o que tente unificar as várias regiões da nossa existência, já que isso corresponde ao quixotismo.[1]

D. Quixote tenta incutir um sentido não-balcânico e não-formal à existência, isto é, tenta unificar todas as regiões da sua existência através de uma só ideia: a de ser um cavaleiro andante. Só através de uma ideia unificadora pode a existência ter qualquer sentido (obviamente que a ideia unificadora de D. Quixote não chega para conferir sentido à sua existência, pois é muito curta). Sancho Pança (ou como escreveu um aluno de Direito: São Xupança...), por seu lado, representa o senso comum levado ao extremo.


[1] Curiosamente, entre as várias acepções possíveis da palavra, o Houaiss regista «a defesa de causas que são estranhas aos seus próprios interesses.»

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