31 de maio de 2006

Recriação portuguesa do Funeral Blues de W. H. Auden

Blues Fúnebres

Parem todos os relógios, os telefones barulhentos,
Impeçam o cão de ladrar aos ossos suculentos,
Silenciem os pianos e com tambores abafados
Tragam o caixão, deixem vir os enlutados.

Deixem que os aviões cirandem em lamento no apogeu
Escrevinhando no céu a mensagem Ele Morreu,
Ponham laços de crêpe em torno dos colos brancos das pombas urbes,
Deixem que os polícias sinaleiros usem luvas de algodão lúgubres.

Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este e Oeste,
A minha semana de trabalho e o meu domingo celeste,
O meu meio-dia, a minha meia-noite, a minha palavra, a minha canção;
Pensei que o amor duraria para sempre: era uma ilusão.

As estrelas já não são desejadas; extingam-nas uma por uma;

Encaixotem a lua e tapem o sol com a bruma;
Varram os bosques e que o oceano seja vertido;
Pois nada mais pode fazer qualquer sentido.

Abril, 1936

5 comentários:

Anónimo disse...

brilhante tradução (não é preciso chamar-lhe recriação...) de um brilhante poema. impressionante em inglês, e agora em português. Parabéns.

Priscilla DiB disse...

BELÍSSIMO POEMA E BELÍSSIMA MÚSICA. GOSTARIA DE SABER O NOME DA MÚSICA E DO CANTOR. MEU E-MAIL: priscilladib_3@hotmail.com. É TUDO DE MUITO BOM GOSTO!PARABÉNS!

O Gigante Egoísta disse...

Olá Pri, bem-vinda ao Gigante. As músicas que tenho a passar no blogue estão descritas mais abaixo, na funcionalidade a que chamei cripticamente 'tales from alice'. As músicas são todas dos The National. Podes passar as várias que foram escolhidas por mim e ver qual delas é que procuras.

Priscilla DiB disse...

Obrigada... Encontrei-as! São todas lindíssimas. Nostálgicas como eu!
Visitarei sempre o blog pois adorei!
Abraço!

Anónimo disse...

Bela tradução, realmente. Aqui, em razão do falecimento do meu pai nesta semana, eu gostaria de deixar uma VERSÃO bem livre que fiz do poema de Auden:

Parem os relógios, desliguem os telefones
Distraiam com ossos os cães que uivam o seu nome
Parem a música e deixem apenas o toque solitário do tambor
Tragam o caixão e nos deixem expressar nossa dor

Que os aviões circulem pelo céu em lamento
Deixando em rastros a mensagem de seu falecimento
Adornem com flores este doloroso e silencioso percurso
E que guardas de trânsito calcem luvas pretas em respeitoso tributo

Ele era o meu Oeste, o meu Leste, o meu Norte, o meu Sul
A minha semana de trabalho, o meu domingo de céu azul
Foi o meu dia, a minha noite, a minha conversa, minha canção
Eu pensei que tudo seria para sempre: enganei-me em minha ilusão

Que se encerre de vez esse teatro de estrelas
Recolham a lua, retirem o sol exaurido
Esvaziem os oceanos e as florestas de sua pureza
Pois não há nada agora que faça sentido