2 de junho de 2006

Ordem dos Médicos multada



A Ordem dos Médicos foi multada em 250 mil euros pela Autoridade da Concorrência, segundo noticiou, nesta quinta-feira, o jornal Público, por «impor uma tabela de preços máximos e mínimos ao serviços clínicos prestados em regime privado». Sem querer repetir as palavras do bastonário, acrescento que, de facto, é totalmente descabido configurar a actividade médica como uma actividade comercial, submetida às leis concorrenciais do mercado
(como faz Abel Mateus da Autoridade da Concorrência). Um médico não pode ser tentado a diminuir a qualidade dos seus serviços, de forma a aumentar a margem de lucro. Não pode ser tentado a diminuir a dose de anestesia, a aproveitar as luvas para mais de um doente, a não oferecer tudo aquilo que define um serviço da mais elevada qualidade. Se realmente tiver de começar a cortar na despesa de forma a ser mais apto sob a pressão selectiva das actividades comerciais, será de prever uma diminuição da qualidade dos serviços prestados. Acontece que a lógica médica não é a lógica da mercearia de bairro - os melhores produtos aos melhores preços. A medicina lida com a (tentativa de) menorização do sofrimento humano. É óbvio que os melhores equipamentos são os mais dispendiosos, a mais longa formação espera recompensa, o mais profissional dos serviços (com manutenção de assépsia dos materiais, roupas e espaços), bem como a presença de enfermeiros bem treinados, tudo tem os seus custos. Podemos dispensar a presença constante de um enfermeiro? Sim. Podemos «olhar para o lado» na hora de exigir assépsia estrita para cada novo doente? Sim. Mas é evidente que os doentes saem prejudicados com isso. Quem nunca devia ter aberto a boca era Abel Mateus, pois a práctica médica está bem fora do seu domínio (comercial); e, como dizia Chesterton, se se vai abrir a boca é para morder alguma coisa e não para ficar com ela escancarada e ar de otário.

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