7 de fevereiro de 2016

Não entres manso nessa noite escura / Do not go gentle into that good night

Para o meu pai e para o meu padrasto.

Recriação poética de "Do not go gentle into that good night" de Dylan Thomas.

*

Não entres manso nessa noite escura,
A velhice deve arder em fúria até ao final do dia;
Grita, grita contra o cair da negrura.

Embora os homens sábios, no seu fim, saibam certa a escuridão que se afigura,
Porque das suas palavras o raio não nascia,
Não entres manso nessa noite escura.

Homens bons, despedindo-se os últimos, gemendo pela alvura 
Com que os seus gestos fracos poderiam ter dançado em verde baía,
Grita, grita contra o cair da negrura.

Homens ferozes que capturaram e cantaram o sol em voadura,
e aprenderam, tarde demais, que sofriam apenas pela sua via,
Não entres manso nessa noite escura.

Homens graves, próximo da morte, vêem sem figura
Que olhos cegos também podem brilhar como estrelas e alegria,
Grita, grita contra o cair da negrura.

E tu, meu pai, aí na triste altura,
Amaldiçoa-me, abençoa-me agora com o teu olhar feroz, e peço na minha liturgia
Não entres manso nessa noite escura.
Grita, grita contra o cair da negrura.

Dylan Thomas, 1951.