3 de junho de 2008

Obituário de Yves Saint-Laurent




Foi uma daquelas crises de adolescência, aos 16 anos, quando decidi que as únicas camisas que usaria doravante seriam as de Yves Saint-Laurent. Na altura, uma das lojas mais conhecidas dos miúdos caprichosos, como eu próprio, era, salvo erro, a Cortefiel, lugar (quase) exclusivo de venda da marca YSL para homem. Escrevo quase exclusivo, porque não conhecia nenhum outro. A única loja que conhecia na região do Porto era a do centro comercial de Gaia, mas depois passou a haver uma na Rua de Santa Catarina, escusando-me a uma travessia do rio Douro.


Na escola, na turma 10.º A, entre os meus colegas, gostava de usar os padrões de linhas finas, ou os jogos quadráticos de cores, num equilíbrio entre o juvenil e o clássico. Mas o que marcava aquelas camisas era sempre o estilo. Um estilo próprio, um estilo de distinção, mas que nunca me valeu o epíteto de snob.
Claro que não faço ideia de se os outros me viam com aquele estilo que eu imaginava ter ou não. Mas o certo é que eu o sentia; e no fundo é isso que importa.

A obsessão pelo logótipo YSL passou-me, eventualmente. Sobretudo quando me mudei para Lisboa. Em 2002, li no jornal que Yves Saint-Laurent se havia retirado da vida activa. Fiquei durante um tempo curto apartando os olhos do jornal em direcção à janela, deixando que as cores me inflamassem os olhos. Será certo que não terá decorrido muito tempo daquele êxtase agónico a que chamam nostalgia. Mas ainda hoje me lembro dele. Alguma coisa existia ali: e essa coisa eu penso que seja um estilo vivo.

Yves Saint-Laurent, um pied noir que singrou num mundo de feras, num mundo sem rosa dos ventos, num mundo hipnótico e magneticamente destruidor: ele nunca abandonou a sua bússola, a da distinção e elegância. O próprio estilo YSL se inscreve a ele próprio na seguinte afirmação: «a moda desvanece-se, mas o estilo é eterno».
Yves Saint-Laurent, 1936-2008.

4 comentários:

Nothing more than me disse...

Belamente sentido...!
Como um qualquer coisa pode conter tanta coisa!
E YSL não era nada banal em miúdos dessa idade, não! :-)
Gostei de te ver de novo por cá, percebendo que te move a inspiração e não a obrigação ou o hábito.
Um abraço

PP disse...

Acho que Yves Saint-Laurent considerou o teu, um dos seus obituários preferidos, até porque o registo pessoal é admirável.
Já tinha saudades de passar por aqui, tá-se bem!

PP disse...

Porque vem a propósito e eu acho que ficou uma ternura (espero que gostes), aqui vai o texto resultante da leitura do conto em questão pela classe da minha Alice.

O gigante egoísta

O gigante egoísta
vivia num castelo.
Tinha um belo jardim
com cheiro a alecrim.

Fez um muro sem fim
e colocou um aviso.
Passou a ter granizo
mas, sem um sorriso.

Neve, geada, vento norte e granizo
invadiram o paraíso.
O gigante
perdeu o juízo.

A Primavera e o Verão chegaram
porque ao jardim as crianças regressaram,
por um pequeno buraco no muro.
As crianças respiraram ar puro!

No jardim estava um menino
a chorar sozinho.
Queria subir à árvore
mas, era muito baixinho.

O gigante logo o ajudou
e amigo dele ficou.
O tempo passou
e o menino não voltou.

O gigante envelheceu
e o menino apareceu.
O gigante fez um sorriso
e foi com ele para o Paraíso.

Alunos do 3ºA
Escola E.B.1 Antero Basalisa
Ano lectivo 2007/2008

Anónimo disse...

Que saudades!

Que cheirinho a verdade e descomprometimento. Assim também gosto.

Yves, marcou-nos a todos os que gostam do distinto, diferente mas muito nosso.

Se o seu nome serviu também para nos trazer de volta, então tudo vale a pena.

Gigante, também ele se foi!

Para todos, as minhas grandes saudades.

Isa