8 de novembro de 2005

O Silêncio


Foi opinião unânime que ontem se assistiu a um dos diálogos mais belos dos últimos tempos, exponenciado ainda mais pelo deserto de ideias que tem sido, desde há uns anos, a televisão portuguesa.

A importância do silêncio veio à baila numa conversa entre o cardeal D. José Policarpo, Maria José Nogueira Pinto e António Pinto Leite, no programa Prós e Contras.

Escutar o silêncio é dialogar intimamente, com o mais profundo que existe em nós e que, no fundo, é o que nos torna singularmente humanos: diria, é dialogar com a nossa própria humanidade, nas suas dimensões de consciência ética, espiritualidade, angústia, reconhecimento de si. Barata-Moura afirmou que, a partir daí, cada um hipostasia, no campo da espiritualidade, o que quiser como interlocutor desse diálogo. O Cardeal Patriarca concordou (fazendo uma aproximação extraordinária dos meios introspectivos do catolicismo aos de outras filosofias), mas afirmou que esse interlocutor, para ele, «tem um nome e um rosto». Afirmou ainda que a intensificação desse diálogo é o que traz a fé e convidou humildemente Barata-Moura a orar com ele e a descobrir Deus nesse diálogo interior. Este reconhecimento de que o ponto de contacto entre Deus e o homem é o próprio homem e de que funciona pelos mesmos mecanismos introspectivos de qualquer filosofia, com a excepção da atribuição de um «um nome e um rosto» bem determinados e divinos, teve um efeito de humildade (o que, há muitos anos, não era de esperar na tradicional afirmação superior da Igreja, como notou António Pinto Leite) que, de facto, só pode emudecer qualquer um por falta de argumentos contraditórios lógicos. É, realmente, «o tempo em que a Igreja está a fazer as pazes com Portugal».

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