13 de maio de 2006

Post mortem nil est

A esperança de ser depois da morte funda-se no amor de ser durante a vida; é fundada sobre a probabilidade de que o que pensa pensará. Disso não há qualquer demonstração, porque uma coisa demonstrada é uma coisa cujo contrário é uma contradição, e porque nunca houve disputa sobre as verdades demonstradas. Lucrécio, para destruir esta esperança, apresenta, no seu terceiro livro, argumentos cuja força aflige; mas não opõe senão verosimilhanças a verosimilhanças mais fortes. Vários Romanos pensavam como Lucrécio; e num teatro de Roma cantava-se: Post mortem nil est, «nada existe após a morte». Mas o instinto, a razão, a necessidade de ser consolado, o bem da sociedade, prevaleceram e os homens sempre tiveram a esperança de uma vida futura; esperança, na verdade, muitas vezes acompanhada pela dúvida. A revelação destrói a dúvida e põe a certeza em seu lugar.

Nota de Voltaire ao Poème Sur Le Désastre de Lisbonne

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