6 de novembro de 2005

Chá com paramécia


«Os grunhos estão sempre bem-dispostos e nunca sofrem, porque faz parte da ontologia do grunho não ter vida interior. Num restaurante de Lisboa, poucos dias depois do acidente de Chernobyl, ouvia-se um grunho a perguntar ao criado, enquanto abafava grossas gargalhadas: “Ouça lá − este cherne é fresco ou é ‘óbil’? Veja lá − é que no outro dia serviram-me umas lulas tão radioactivas que bastava mexer-lhes para apanhar o FM da Renascença!”
São os grunhos que inventam as “últimas anedotas” que se supõem prova irrefutável do génio humorístico português. As anedotas são as maneiras deles se sentirem superiores a alguém. Depois de as contarem, explicam-nas até à exaustão (“Cherne e óbil, Chernobyl, estás a ver? Foi aquele sítio lá na Rússia onde rebentou uma bomba nuclear, ou lá o que é”). Passada uma semana, contam-na novamente. (...)
Os piores grunhos são os grunhos educados à força. Aliás, a ciência probabilística demonstra que quando se persiste em deitar pérolas a porcos, durante um período de tempo relativamente longo, qualquer leitãozinho aprende depressa a fazer um colar.»
ibidem
De facto, o chá foi uma das grandes contribuições portuguesas à civilização europeia, quando D. Catarina de Bragança convenceu a corte de Carlos II de Inglaterra a tomar regularmente uma chávena de chá. Mas hoje, nem o cacau africano nem o café brasileiro, podem alguma vez compensar a falta de chá que cada vez mais se instala e contagia de King Kongs para cerebrozinhos gelatinosos de paramécia.

2 comentários:

Anónimo disse...

Esta é mais uma das descrições brilhantes de Miguel Esteves Cardoso.

Obrigado Gigante.

Anónimo disse...

Esta é mais uma das descrições brilhantes de Miguel Esteves Cardoso.

Obrigado Gigante.