O regime normal de sentido é o que atribui significado ao que fazemos. Vivemos dominados pelo significado que atribuímos às nossas possibilidades (é o que dá sentido à nossa vida). Eg, a saúde define claramente o significado da existência e é uma possibilidade. Isto significa que a possibilidade de saúde permite outras possibilidades e, assim, a capacidade atinente de extrair um significado para a existência; a possibilidade de doença rapidamente fatal como que pode anular todas as outras possibilidades passíveis de atribuir um significado à existência, o que pode redundar, como já vimos, no desespero.
A particularidade do nosso regime de sentido é a sua balcanização[1] (regionalização). Há como que cantões (regiões correspondentes à preguiça, à riqueza, ao amor, etc.) que podem chocar entre si, como se não houvesse uma unificação entre eles. Diz-se que o significado da existência é míope porque, tal como os dias de nevoeiro, o alcance da visão que temos dele pode variar (nevoeiro que se vê até 10, 20, 30 m...). Ou seja, não há um alcance contínuo da visão da vida. Por isso estamos condicionados a viver de acordo com objectivos que vamos estabelecendo dia a dia, consoante a distância da nossa visão nessa altura (eg, acabar a faculdade, deixar de fumar, etc.) Diz-se também que é a prazo, pois as coisas vão aparecendo no dia-a-dia, não estão todas estabelecidas ao mesmo tempo.
[1] Balcanizar é, de acordo com Houaiss, «fragmentar (uma região, um país ou império) em Estados menores, tornando-os (ou não) antagónicos. A acepção pejorativa do verbo balcanizar reflecte a fragmentação histórica dos Balcãs, caracterizando-os como área de constante conflito e permanente instabilidade.
1 comentário:
É do significado que atribuímos às nossas possibilidades que surge o nosso sentido de vida (percepção e apreensão desse significado). Não deverá existir uma relação de proporcionalidade entre os termos (pela intensidade dum significado não se adquire maior sentido de vida) nem de comutação (é o significado que determina o sentido das coisas). Contudo, a dependência biossociocultural do Homem, cria neste padrões que fazem com que seja o sentido que atribui significado ao que fazemos ao contrário da formulação mais lógica.
É, portanto, a experiência (como determinadora da atribuição de significados) que induz um sentido de vida, é também essa experiência que vai moldar os padrões mentais do homem (por acumulação de significados) e gerar a fragmentação ou balconização do seu sentido de vida. Podemos, por isso, dizer que o sentido de vida se encontra em mutação permanente devido a factores externos (biológicos, naturais e outros naturalmente alheios ou inesperados) e internos: o modo como o Homem se coloca perante o seu sentido de vida e perante o sentido de vida da sociedade e cultura que o envolvem.
Para concluir, diria que o sentido de vida atribui significado ao que fazemos, e num feedback este devolve um novo sentido de vida. O Homem inconscientemente tende a entender sentido de vida com evolução e, por isso, procura da maneira que pode (não nos esqueçamos que factores externos a ele actuam de forma contínua) evoluir, isto é, superar e acomodar o seu espaço de possibilidades.
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