25 de novembro de 2006

ai, meu Santo Anselmo, alumiai-me!

Já há muito tempo que eu não tinha de me deter tanto tempo para entender completamente o sentido de um raciocínio. Não sei se o problema é da tradução ou do raciocínio; deve haver culpa de ambas as partes =P

Portanto, Senhor, Tu que dás o entendimento da fé, concede-me que, quanto sabes ser-me conveniente, entenda que existes como acreditamos e que és o que acreditamos. E na verdade acreditamos que Tu és algo maior do que o qual nada pode ser pensado. Acaso não existe uma tal natureza pois o insensato disse no seu coração: não há Deus. Mas com certeza esse mesmo insipiente, quando ouvir isto mesmo que digo, algo maior do que o qual pode ser pensado, entende o que ouve e o que entende está no seu intelecto ainda que não entenda que isso exista. Com efeito, quando o pintor concebe previamente o que vai fazer, tem isso mesmo no intelecto, mas ainda não entende que exista o que não fez. Mas quando já pintou, não só o tem no intelecto como entende que existe aquilo que já fez. E, de facto, aquilo maior do que o qual não pode ser pensado não pode existir apenas no intelecto. Se está apenas no intelecto pode pensar-se que existe na realidade, o que é ser maior. Se, portanto, aquilo maior do que o qual não pode ser pensado está apenas no intelecto, aquilo mesmo maior do que o qual nada pode ser pensado é aquilo relativamente ao qual pode pensar-se algo maior. Existe, portanto, sem dúvida, algo maior do que o qual não é possível pensar-se não apenas no intelecto mas também na realidade.

Proslogion, Santo Anselmo

4 de novembro de 2006

o nosso tempo é tempo de pecado organizado

CANTATA DA PAZ

Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar

Nós, o povo de Deus,
Reunidos imploramos
A graça da Paz
A graça da paz

Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror

A bomba de Hiroshima
Vergonha de nós todos
Reduziu a cinza
A carne das crianças

O corpo humano foi
Queimado em Buchenwald
O corpo humano foi
Queimado em Buchenwald

Os países inventam
Bombas e prisões
A máquina produz
Perfeitas sujeições

E no terceiro mundo
Nos campos e na rua
A fome continua
A fome continua

D'África e Vietnam
Sobe a lamentação
Dos povos destruídos
Dos povos destroçados

Nos caminhos da terra
Os mapas continuam
De fome e sujeição
E continua a guerra

O cântico da flauta
E a música do banjo
Não podem apagar
O concerto dos gritos

Nada pode apagar
O concerto dos gritos
O nosso tempo é tempo
De pecado organizado


Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen feito para a vigília, organizada por um grupo de leigos, que se seguiu à Missa pela Paz, no dia 1 de Janeiro de 1969, na igreja de São Domingos em Lisboa e que reuniu cerca de 150 fiéis. Foram publicadas em folhetos e, mais tarde incluídas no livro «Católicos e Política», editado pelo Padre José da Felicidade Alves. Por essa altura, algumas delas foram musicadas pelo Padre Francisco Fanhais e incluídas no álbum Canção da Cidade Nova.

O viado veste Prada

2 de novembro de 2006

Um post dedicado ao Ramos

Depois do «conceito de ironia em Sócrates», o «conceito de ironia em MacGyver»