3 de julho de 2006

Leitura: vocação ou obrigação

Encontrei na Semana Médica um interessante artigo de opinião do Psiquiatra Pedro Afonso acerca da leitura, do qual passo a transcrever o mais importante.

Recentemente, Saramago chocou o país declarando o Plano Nacional de Leitura como infrutuoso, alegando que ler sempre foi e será coisa de uma minoria.

Estas palavras são compreensíveis, pois são poucas as pessoas que lêem regularmente, sendo o índice de leitura dos portugueses dos mais baixos da Europa.

A leitura não pode ser imposta por decreto-lei. O gosto pela leitura é portanto uma vocação. Porém, ninguém pode sentir-se atraído por algo que nunca conheceu verdadeiramente.

Nos dias de hoje as crianças vêem televisão e jogam no computador muito antes de aprenderem a ler. Por isso, torna-se importante limitar o tempo de computador e televisão de que elas usufruem. Elas precisam de estimular a imaginação através de jogos, para que mais tarde façam facilmente a transição para a leitura. Ou seja, é imprescindível exercitar dois aspectos fundamentais para ler: a imaginação e a capacidade para estar sozinho − porque ler é um acto solitário.

Um dos aspectos positivos da leitura é o enriquecimento da linguagem. Esta característica traz-nos inúmeros benefícios uma vez que se não conseguirmos exprimir-nos de forma adequada, o pensamento fica limitado e a compreensão da realidade muito difícil. Além disso, os livros ao permitirem descobrir o mundo de outras pessoas, possibilitam-nos através desse confronto um melhor conhecimento de nós próprios.

A leitura, tal como o cinema ou o teatro, desbanaliza a vida, dando-lhe profundidade e incitando à reflexão. Mesmo assim é errado pensar que ler muito é sinónimo de possuir uma cultura superior. Existem muitas pessoas que apesar de lerem abundantemente, depois não conseguem filtrar a informação, nem estruturar o saber; são os «leitores-esponja».

Por conseguinte, nem todos aqueles que têm hábitos de leitura aproveitam aquilo que lêem, nem os outros, que raramente pegam num livro, devem ser rotulados como uma espécie de «homens de Neandertal».