31 de outubro de 2005

Em Busca das Estrelas Perdidas...



Na nossa mais recente visita ao estádio da galinha, eu e o nelson (mouro al-quaeda em primeiro plano com óculos escuros) encontrámos a mais inesperada das estrelas já (supostamente) desaparecidas. KURT COBAIN, para fugir aos fans, emigrou para Portugal (que ninguém conhece nos EUA) e tornou-se sócio do benfica (imiscuindo-se inteligentemente entre os milhões que constituem a massa associativa -- enfim, lá alguém lhe terá dito que são 6 milhões e que, por isso, facilmente passará incógnito). Como podemos observar, para além de estar, naturalmente, um pouco mais velho, usa também óculos escuros (não vá algum fan reconhecê-lo), gosta de tremoços e parece padecer da síndrome 'mário soares' («onde estou eu? que estou a fazer aqui? quem sou? como vim aqui parar?»)

Bird flu strikes Disneyland


O temível bird-flu-influenzavirus já atingiu o mais famoso sex-symbol ornitológico.
Vendo isto, Tico e Teco pediram a imediata execução de Margarida, Tio Patinhas, Prof. Pardal, Gastão, Huguinho, Zenhinho e Luisinho. Acossados, os familiares de espécie encontram-se agora em parte incerta, conjecturando-se que num paraíso fiscal off-shore pertencente a Patinhas.
Pateta, agora dedicado ao jornalismo televisivo, accionou todos os mecanismos de alarmismo público, fazendo soar as novas trombetas do apocalipse.
Entretanto, patas de todo o mundo juntaram-se em prosopopeia à porta do hospital veterinário «Grupo Patinhas-Mello», fazendo procissões de velas e usando máscaras de gás, empunhando cartazes e grassitando as palavras de ordem «fim do genocídio», «Donald, we luv u» e «eat cat, not bird».

28 de outubro de 2005

Jé, o bigiense



Zé Pedro fez a sua portentosa rentrée deste ano, com todo o mise en scène a que obriga a disciplina aikido, no badalado desfile 'Moda Lx.-MC'. Ostentou camisa Augustos, que alia a protecção da flanela contra o Xi inimigo e a manejabilidade fácil e necessária aos golpes 'kame hame son gokou', 'mil braços com um counter strike de pony-tail seagal', e 'dupla mochada girada van dame-chuck norris'. Usa ainda óculos 'lopes', protectores da retina (não tanto como os do chanel eclipse), ideais contra o golpe 'iluminismo' ou simplesmente para passar um belo dia na praia de carcavelos.

27 de outubro de 2005

Erros de português


Não descurando o meu dever cívico de educar os ortograficamente handicaped, aqui deixarei alguns contributos generosamente infundidos em mim pela grande guru sintrense, a tia Estrela.

REGRA: usa-se o hífen nos vocábulos em cuja formação entra o prefixo 'anti', quando é seguido de -h, -i, -r ou -s (eg, anti-humano, anti-revolução, anti-secular). Assim, correctamente será 'anticaspa', e não o «anti-caspa». A mesma regra aplica-se aos prefixos 'arqui' e 'semi'.

24 de outubro de 2005

Sigur Rós


Takk

Melancolias etéreas
pelas auroras róseas
vertidas lentamente
sopradas pelo Bóreas.

22 de outubro de 2005

República do Ananás


O Ananás

Tal vive o sábio, estrangeira planta
Em terreno ignorante.
FILINT.


Coroado rei dos filhos de Pomona,
Quão galhardo e formoso
Entonas essa frente de monarca,
E a púrpura doirada
Vestes na linda cor com que te envolve
A rica natureza!
Oh! como pôde as leis assim cortar-lhe
Arte engenhosa de homens,
E, desvairados climas confundindo,
No acobertado encerro
A pátria dar-te, e fecundar-te os germes
No mui feliz exílio!
Destarte o sábio, que rodeiam gelos
De ríspida ignorância,

Lírica de João Mínimo, Livro Terceiro, Almeida Garrett

Dois poemas de Rilke: Dia de outono


Dia de outono

Senhor: é tempo. Foi muito grande o verão.
Nos relógios de sol estira as tuas sombras,
deixa que pelo prado os ventos vão.

Manda aos últimos frutos a espessura,
dá-lhes do sul ainda mais dois dias,
força a plenitude neles, vê se envias
ao vinho forte a última doçura.

Quem não tem casa agora, já não constrói nenhuma,
quem agora está só, vai ficar só, sombrio,
perder o sono, ler, escrever cartas a fio,
e a um ir e vir inquieto nas áleas se acostuma,
vagueando enquanto as folhas lá vão num rodopio.

tradução de VGM

Dois poemas de Rilke: A pantera


A pantera

De percorrer as grades o seu olhar cansou-se
e não retém mais nada lá no fundo,
como se a jaula de mil barras fosse
e além das barras não houvesse mundo.

O andar elástico dos passos fortes dentro
da ínfima espiral assim traçada
é uma dança da força em torno ao centro
de uma grande vontade atordoada.

Mas por vezes a cortina da pupila
ergue-se sem ruído − e uma imagem então
vai pelos membros em tensão tranquila
até desvanecer no coração.
tradução de VGM

20 de outubro de 2005

De tanto esperar meu coração alquebrou


«De tanto bater meu coração parou» (De Battre Mon Coeur S'Est Arrêté), o novo filme de Jacques Audiard, mostra bem a antinomia possível, mas como passagem e não destino, entre a dureza burgesso-casca-grossa e a sensibilidade artística, congregadas numa só unidade que é o protagonista Tom (interpretado por Romain Duris, o aluno erasmus da «A Residência Espanhola»). Um homem capaz de espancar okupas, fornicar adulteramente a mulher do melhor amigo, vociferar contra a professora de piano quando ele não consegue executar bem um trecho e até de sovar ao limite do homicídio o mandatário do assassino do pai; e simultaneamente perder horas pela noite adentro para aperfeiçoar a sua técnica de piano, com uma sensibilidade musical afinada pelo timbre de uma elevação parcial da vida do espírito. O segundo fulcro é relação pai-filho: o que significa ser pai e o que significa ser filho. A passagem da personagem de Duris à vida de adulto, o momento em que assume o estatuto de homem, é marcada por vários pontos: a inversão da relação pai-filho, em que passa a ser o filho a cuidar do pai, com o significado cada vez menos velado de que o pai não é imortal; o preço a pagar pelos seus pecados torna-se cada vez mais nítido; e a necessidade de uma relação e de um sentido atribuível à existência. Destes, o mais bem conseguido é o tema da paternidade, pois Tom, quando encontra o manager da mãe, pianista já falecida, sente que tem de abandonar simbolicamente o caminho do pai (o da extorsão e usura) para seguir o da mãe. Nesse sentimento demarcam-se os limites da relação com o progenitor, evidenciando as suas múltiplas falhas e fragilidades.
Diz o realizador “O filme é a história do amadurecimento de um homem. Ele cresce porque a música lhe ensina que o que faz é um beco sem saída.” E, no final, Tom realmente é um homem melhor, que não mata (o assassino do pai) e que larga o mundo imobiliário de, como ratos que são, se comerem entre si vivos; para finalmente amar e se deixar amar por quem mais o aproxima de um enlace final com a arte da mãe, a arte sustida nas cordas da lira de Apolo.
Mas o andamento do filme é lento (somos cerradamente levados ao ritmo − bem mais lento que as tocatas de Bach − das escolhas do protagonista, que detém todo o poder narrativo), não há impressão estética visual (embora quase seja compensada com a musical, que logrou ganhar um Urso de Prata) e, no escuro afundado da cadeira do Monumental, só pensava: quando é que isto acaba? É o pecado dos chatos, o que não significa que não sejam bons.

19 de outubro de 2005

Não aborte o seu filho gay?!

Enquanto procurava uma imagem de um belo fetus suspenso leve no mundo amniótico, encontrei esta notícia surrealista:

Brian Duprey, do estado do Maine, introduziu uma legislação que proíbe qualquer mulher de abortar um feto gay. Duprey tem como pressupostos que: (1) a ciência conseguirá mapear um gene gay no genótipo humano; (2) será feito um teste para a detecção desse gene nalgum ponto da gravidez, antes do final do segundo trimestre; e (3) impedir que estas putativas (lato sensu, pelo meu juízo moral) mulheres consigam um aborto.

Nas suas próprias palavras
I have heard from women who told me that if they found out that they were carrying a child with the gay gene, then they would abort. I think this is wrong.


A ser verdade (que nunca será, a não ser num universivo ficcional de história aos quadradinhos patrocinado pelo atrofiado do Cantal), converterão certas mentes prodigiosas em ideias, a que os franceses remetem para o bem conseguido termo lapalissade, um novo bordão para das-mulheres-inocentes-que continuam-a ser-julgadas-por-apenas-cometerem-abortos-baseados-num-sentimento-tacanho-e-podremente-discriminatório-baseado-na-orientação-sexual-do-feto?

17 de outubro de 2005

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A última moda em óculos de sol: 'chanel eclipse'. (testados em todo o tipo de animais, queimam menos a retina que óculos placebo; aprovados pela FDA, INFARMED e avô cantigas)

Uma coisa em forma de assim

«Tentava a senhora dizer o que vira [neste blogue], mas não encontrava (ou não tinha) palavras. (...) - Não lhe sei dizer. Era uma coisa em forma de... Assim. - A senhora arredondava para mim gestos indefinidos.» O'Neil, Uma Coisa em Forma de Assim.